O universo comunica.
Ele o faz de formas incrivelmente variadas e na maioria das vezes
imperceptíveis aos ouvidos despreparados. Não que toda esta comunicação seja
verbal, muito pelo contrário, pois o “ouvido” aqui representa uma alegoria da
verdadeira função de absorver comunicação.
A percepção.
Resumir o processo de interpretar a verbalizar, estreitando nossa
capacidade de troca de informações a nossos pequenos alfabetos, limita nossa
capacidade pressentir os movimentos do quotidiano, o que é ter um contato muito
pobre com o Universo, visto que este é um ato estritamente humano e é sabido,
que somos uma ínfima parcela nesse todo que sequer a milésima parte conhecemos.
Somos realmente muito pequenos.
Entender a movimentação dos cenários é premissa básica à criação de
estratégias que nos levarão a alcançar nossos objetivos e esta capacidade tem
como personagem principal a percepção.
Esta que é a grande ferramenta de trabalho do Gestor.
O livro “Blink” – A decisão num piscar de olhos – Malcom Gladwell,
destaca esta percepção como a capacidade desenvolvida de absorver os
comportamentos do ambiente e armazená-los, para que no momento da tomada de
decisão o Gestor se limite a “fatiar fino” o desenho do cenário e simplesmente
com isso, tome a decisão mais acertada. Não esqueçamo-nos, entretanto, que a
decisão mais acertada não é aquela que representa custo zero, pois é importante
frisar que qualquer decisão tem custo de oportunidade e que optar por seguir
numa direção necessariamente significa não seguir por outra tornando a melhor
rota a de maior benefício e menor custo.
Ponto pacífico também é que o custo ao qual me refiro na minoria das
vezes é o financeiro, pois há muito mais que se perder com uma decisão do que
simplesmente dinheiro. O custo a que me refiro, então, é o econômico, pois este
é muito mais abrangente e cruel, principalmente quando em troca do dinheiro
abre-se mão de amores, convívios ou saúde sem se perceber.
Desenvolver esta percepção é fundamental para a vida.
Não é somente no processo decisório que o sentimento e a observação
apurados auxiliam no trabalho de Gestão, porém também no aspecto de motivação e
liderança. É muito comum a ocorrência em equipes de colaboradores desmotivados
ou sem interesse. Isso na maioria dos casos é reflexo da percepção errônea de
que a motivação é puramente proveniente do benefício financeiro e é aí que o
Gestor preparado motiva através do sentimento. Ele consegue perceber, no
contexto do benefício econômico, quais as ações que independentemente do ganho
financeiro, conseguirão elevar o estado de bem estar daquele Colaborador a um
outro nível.
Quase todo mundo tem expectativas acerca de algo que não seja somente
dinheiro. O nível de capacitação em percepção permite ao Gestor absorver estas
expectativas para satisfazê-las com o intuito de potencializar o bem estar de
seus Colaboradores e no contexto, o resultado global.
Mas e aqueles poucos que não têm mais expectativas?
O processo de percepção aliado à capacidade de argumentação se aplica a
estes casos, pois aí é possível criar no indivíduo o desejo de seguir um rumo,
a ânsia por uma realização. Isso não é
simples. Exige muita empatia e diálogo entre as partes e nem sempre isso é
possível, mas é realizador para todos, pois a recuperação de um profissional é
um dos momentos mais realizadores da vida de um Gestor.
Despeço-me lembrando que a percepção é uma faca de dois gumes, pois
enquanto percebemos somos percebidos. Nosso comportamento e posturas são
observados e seguidos, pois assim o é quando alguém se torna referência. Neste
ínterim a maior preocupação que devemos ter é com o que estamos comunicando sem
perceber, pois no emaranhado de sensações e trocas de comunicações rápidas e
muitas vezes descompromissadas, quem somos, pode estar em risco pela forma com
que nos mostramos.
“Comunicação é responsabilidade de quem transmite, pois é ele quem tem
que se preocupar com a qualidade e acuidade do que está sendo transmitido,
adaptando sua linguagem da forma que for necessária à percepção do receptor.”