Saturday, December 01, 2012

Percepção, decisão e motivação em Gestão.


O universo comunica.
Ele o faz de formas incrivelmente variadas e na maioria das vezes imperceptíveis aos ouvidos despreparados. Não que toda esta comunicação seja verbal, muito pelo contrário, pois o “ouvido” aqui representa uma alegoria da verdadeira função de absorver comunicação.
A percepção.
Resumir o processo de interpretar a verbalizar, estreitando nossa capacidade de troca de informações a nossos pequenos alfabetos, limita nossa capacidade pressentir os movimentos do quotidiano, o que é ter um contato muito pobre com o Universo, visto que este é um ato estritamente humano e é sabido, que somos uma ínfima parcela nesse todo que sequer a milésima parte conhecemos.
Somos realmente muito pequenos.
Entender a movimentação dos cenários é premissa básica à criação de estratégias que nos levarão a alcançar nossos objetivos e esta capacidade tem como personagem principal a percepção.
Esta que é a grande ferramenta de trabalho do Gestor.
O livro “Blink” – A decisão num piscar de olhos – Malcom Gladwell, destaca esta percepção como a capacidade desenvolvida de absorver os comportamentos do ambiente e armazená-los, para que no momento da tomada de decisão o Gestor se limite a “fatiar fino” o desenho do cenário e simplesmente com isso, tome a decisão mais acertada. Não esqueçamo-nos, entretanto, que a decisão mais acertada não é aquela que representa custo zero, pois é importante frisar que qualquer decisão tem custo de oportunidade e que optar por seguir numa direção necessariamente significa não seguir por outra tornando a melhor rota a de maior benefício e menor custo.
Ponto pacífico também é que o custo ao qual me refiro na minoria das vezes é o financeiro, pois há muito mais que se perder com uma decisão do que simplesmente dinheiro. O custo a que me refiro, então, é o econômico, pois este é muito mais abrangente e cruel, principalmente quando em troca do dinheiro abre-se mão de amores, convívios ou saúde sem se perceber.
Desenvolver esta percepção é fundamental para a vida.
Não é somente no processo decisório que o sentimento e a observação apurados auxiliam no trabalho de Gestão, porém também no aspecto de motivação e liderança. É muito comum a ocorrência em equipes de colaboradores desmotivados ou sem interesse. Isso na maioria dos casos é reflexo da percepção errônea de que a motivação é puramente proveniente do benefício financeiro e é aí que o Gestor preparado motiva através do sentimento. Ele consegue perceber, no contexto do benefício econômico, quais as ações que independentemente do ganho financeiro, conseguirão elevar o estado de bem estar daquele Colaborador a um outro nível.
Quase todo mundo tem expectativas acerca de algo que não seja somente dinheiro. O nível de capacitação em percepção permite ao Gestor absorver estas expectativas para satisfazê-las com o intuito de potencializar o bem estar de seus Colaboradores e no contexto, o resultado global.
Mas e aqueles poucos que não têm mais expectativas?
O processo de percepção aliado à capacidade de argumentação se aplica a estes casos, pois aí é possível criar no indivíduo o desejo de seguir um rumo, a ânsia por uma realização.  Isso não é simples. Exige muita empatia e diálogo entre as partes e nem sempre isso é possível, mas é realizador para todos, pois a recuperação de um profissional é um dos momentos mais realizadores da vida de um Gestor.
Despeço-me lembrando que a percepção é uma faca de dois gumes, pois enquanto percebemos somos percebidos. Nosso comportamento e posturas são observados e seguidos, pois assim o é quando alguém se torna referência. Neste ínterim a maior preocupação que devemos ter é com o que estamos comunicando sem perceber, pois no emaranhado de sensações e trocas de comunicações rápidas e muitas vezes descompromissadas, quem somos, pode estar em risco pela forma com que nos mostramos.

“Comunicação é responsabilidade de quem transmite, pois é ele quem tem que se preocupar com a qualidade e acuidade do que está sendo transmitido, adaptando sua linguagem da forma que for necessária à percepção do receptor.”

Tuesday, November 27, 2012

Ninguém é insubstituível?

Todos conhecem aquela fábula que relata uma reunião de Gestão onde um Diretor no auge de uma acalorada discussão, a plenos pulmões afirma que ninguém é insubstituível.
Na mesma hora, impulsionado por suas emoções começa um estagiário a citar pessoas importantes dos mais diversos campos do saber humano, justificando-os como insubstituíveis pela importância e valor de suas obras.
            Disse ele:
- Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico? Etc.?… 
            Logo que a li lembrei-me da célebre frase de Roberto Justos no programa de TV – “Você está despedido...”, pois se essa não fosse apenas uma fábula, ele sequer teria concluído sua explanação. 
            Eu não o despediria, mas aproveitaria a oportunidade para apresentar-lhe um mundo novo, cheio de possibilidades o qual aqueles que se acham insubstituíveis, nunca terão a oportunidade de conhecer.
Eu lhe perguntaria:
- Acaso a música deixou de existir após a partida de Beethoven, Tom Jobim ou Frank Sinatra? Acaso todos os Grandes Prêmios deixaram de ser disputados após a morte de Ayrton Sena, ou as partidas de futebol após Pelé e Garrinha deixarem de jogá-lo?
A Física pós Einstein deixou de ser ensinada nas escolas ou estagnou-se? Não se pintou mais após Picasso ou se escreveu após Lobato nos deixarem?
Aviões deixaram de voar após a morte de Santos Dumont ou continuam sendo teço-tecos?
Se a natureza nos quisesse insubstituíveis teria nos feito imortais.
Precisamos aprender que nunca seremos maiores que nossas obras, estas sim, devem ter em nossa procura diária a ânsia da imortalidade.
Deveis entender que tudo aquilo que estes homens construíram é bloco, é tijolo, que apenas serve como apoio para a construção de algo muito maior do que eles. A evolução da humanidade.
Tudo que fugir disso é vaidade!
A cultura do egocentrismo, do “só eu sei fazer”, tem emperrado a evolução de muitos modelos de Gestão nas empresas contemporâneas. O choque entre as gerações experientes e a geração Y tem dificultado a transferência de conhecimentos e forçado estes últimos a uma rotatividade muito maior que o normal, ainda que eles sejam extremamente inquietos e ávidos por mobilidade.
À Corporação, então, o dano é muito maior, pois não oxigena seus quadros, não permite que brotem novas idéias ou que ganhe fôlego e energia para alçar novos vôos.
E o que dizer sobre o que se acha insubstituível? Um dos males que causa a si mesmo é a estagnação. Permanecer estático é se recusar a evoluir, a progredir. Ignorar que um ciclo se encerra é impedir que outro comece, é não se dar a oportunidade de viver outras vidas, de evoluir como ser humano e deixar de ser pedra bruta. Esconder-se atrás da vaidade para ocultar a síndrome da zona de conforto.
Mas aquele estagiário não se daria por satisfeito. Depois de todo esse discurso ele ainda questionaria:
- E perante o amor de seus filhos? Acaso poderia você ser substituído?
E eu lhe diria:
- Achar alguém insubstituível é uma atitude de amor!
Achar-se insubstituível é uma pecado e uma crueldade!
É assim que a natureza funciona. Passamos e a vida passa. As obras servem para que aquilo que existiu seja lembrado, até por que, a pior vaidade seria depois de ter faltado, esperar que alguém sofra o resto da vida sua perda sem um devido consolo ao seu lado.
Construa o amor enquanto em vida e ele só precisará ser renovado. Assim é com a admiração, a caridade, o conhecimento e todas as virtudes que provém da evolução. Esta que apenas alçaram os que em lugar da vaidade e de enaltecer-se insubstituíveis vivem e viverão em suas obras, criadas e perpetuadas para o bem estar da humanidade.

"Se a posse de um mundo ganhaste, não te alegres por isso... Não importa! Se a posse de um mundo perdeste, não sofras por isso... não importa! Passam as dores, passam os prazeres, e tu pelo mundo passas... não importa!"

Goethe.