Tuesday, November 27, 2012

Ninguém é insubstituível?

Todos conhecem aquela fábula que relata uma reunião de Gestão onde um Diretor no auge de uma acalorada discussão, a plenos pulmões afirma que ninguém é insubstituível.
Na mesma hora, impulsionado por suas emoções começa um estagiário a citar pessoas importantes dos mais diversos campos do saber humano, justificando-os como insubstituíveis pela importância e valor de suas obras.
            Disse ele:
- Quem substituiu Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico? Etc.?… 
            Logo que a li lembrei-me da célebre frase de Roberto Justos no programa de TV – “Você está despedido...”, pois se essa não fosse apenas uma fábula, ele sequer teria concluído sua explanação. 
            Eu não o despediria, mas aproveitaria a oportunidade para apresentar-lhe um mundo novo, cheio de possibilidades o qual aqueles que se acham insubstituíveis, nunca terão a oportunidade de conhecer.
Eu lhe perguntaria:
- Acaso a música deixou de existir após a partida de Beethoven, Tom Jobim ou Frank Sinatra? Acaso todos os Grandes Prêmios deixaram de ser disputados após a morte de Ayrton Sena, ou as partidas de futebol após Pelé e Garrinha deixarem de jogá-lo?
A Física pós Einstein deixou de ser ensinada nas escolas ou estagnou-se? Não se pintou mais após Picasso ou se escreveu após Lobato nos deixarem?
Aviões deixaram de voar após a morte de Santos Dumont ou continuam sendo teço-tecos?
Se a natureza nos quisesse insubstituíveis teria nos feito imortais.
Precisamos aprender que nunca seremos maiores que nossas obras, estas sim, devem ter em nossa procura diária a ânsia da imortalidade.
Deveis entender que tudo aquilo que estes homens construíram é bloco, é tijolo, que apenas serve como apoio para a construção de algo muito maior do que eles. A evolução da humanidade.
Tudo que fugir disso é vaidade!
A cultura do egocentrismo, do “só eu sei fazer”, tem emperrado a evolução de muitos modelos de Gestão nas empresas contemporâneas. O choque entre as gerações experientes e a geração Y tem dificultado a transferência de conhecimentos e forçado estes últimos a uma rotatividade muito maior que o normal, ainda que eles sejam extremamente inquietos e ávidos por mobilidade.
À Corporação, então, o dano é muito maior, pois não oxigena seus quadros, não permite que brotem novas idéias ou que ganhe fôlego e energia para alçar novos vôos.
E o que dizer sobre o que se acha insubstituível? Um dos males que causa a si mesmo é a estagnação. Permanecer estático é se recusar a evoluir, a progredir. Ignorar que um ciclo se encerra é impedir que outro comece, é não se dar a oportunidade de viver outras vidas, de evoluir como ser humano e deixar de ser pedra bruta. Esconder-se atrás da vaidade para ocultar a síndrome da zona de conforto.
Mas aquele estagiário não se daria por satisfeito. Depois de todo esse discurso ele ainda questionaria:
- E perante o amor de seus filhos? Acaso poderia você ser substituído?
E eu lhe diria:
- Achar alguém insubstituível é uma atitude de amor!
Achar-se insubstituível é uma pecado e uma crueldade!
É assim que a natureza funciona. Passamos e a vida passa. As obras servem para que aquilo que existiu seja lembrado, até por que, a pior vaidade seria depois de ter faltado, esperar que alguém sofra o resto da vida sua perda sem um devido consolo ao seu lado.
Construa o amor enquanto em vida e ele só precisará ser renovado. Assim é com a admiração, a caridade, o conhecimento e todas as virtudes que provém da evolução. Esta que apenas alçaram os que em lugar da vaidade e de enaltecer-se insubstituíveis vivem e viverão em suas obras, criadas e perpetuadas para o bem estar da humanidade.

"Se a posse de um mundo ganhaste, não te alegres por isso... Não importa! Se a posse de um mundo perdeste, não sofras por isso... não importa! Passam as dores, passam os prazeres, e tu pelo mundo passas... não importa!"

Goethe.