Todos conhecem aquela fábula que
relata uma reunião de Gestão onde um Diretor no auge de uma acalorada discussão,
a plenos pulmões afirma que ninguém é insubstituível.
Na mesma hora, impulsionado por suas
emoções começa um estagiário a citar pessoas importantes dos mais diversos
campos do saber humano, justificando-os como insubstituíveis pela importância e
valor de suas obras.
Disse ele:
- Quem substituiu Beethoven? Tom
Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro
Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods?
Albert Einstein? Picasso? Zico? Etc.?…
Logo que a
li lembrei-me da célebre frase de Roberto Justos no programa de TV – “Você está
despedido...”, pois se essa não fosse apenas uma fábula, ele sequer teria
concluído sua explanação.
Eu não o
despediria, mas aproveitaria a oportunidade para apresentar-lhe um mundo novo,
cheio de possibilidades o qual aqueles que se acham insubstituíveis, nunca
terão a oportunidade de conhecer.
Eu lhe perguntaria:
- Acaso a música deixou de existir
após a partida de Beethoven, Tom Jobim ou Frank Sinatra? Acaso todos os Grandes
Prêmios deixaram de ser disputados após a morte de Ayrton Sena, ou as partidas
de futebol após Pelé e Garrinha deixarem de jogá-lo?
A Física pós Einstein deixou de ser
ensinada nas escolas ou estagnou-se? Não se pintou mais após Picasso ou se
escreveu após Lobato nos deixarem?
Aviões deixaram de voar após a morte
de Santos Dumont ou continuam sendo teço-tecos?
Se a natureza nos quisesse
insubstituíveis teria nos feito imortais.
Precisamos aprender que nunca
seremos maiores que nossas obras, estas sim, devem ter em nossa procura diária
a ânsia da imortalidade.
Deveis entender que tudo aquilo que estes
homens construíram é bloco, é tijolo, que apenas serve como apoio para a
construção de algo muito maior do que eles. A evolução da humanidade.
Tudo que fugir disso é vaidade!
A cultura do egocentrismo, do “só eu
sei fazer”, tem emperrado a evolução de muitos modelos de Gestão nas empresas
contemporâneas. O choque entre as gerações experientes e a geração Y tem
dificultado a transferência de conhecimentos e forçado estes últimos a uma
rotatividade muito maior que o normal, ainda que eles sejam extremamente
inquietos e ávidos por mobilidade.
À Corporação, então, o dano é muito
maior, pois não oxigena seus quadros, não permite que brotem novas idéias ou
que ganhe fôlego e energia para alçar novos vôos.
E o que dizer sobre o que se acha
insubstituível? Um dos males que causa a si mesmo é a estagnação. Permanecer
estático é se recusar a evoluir, a progredir. Ignorar que um ciclo se encerra é
impedir que outro comece, é não se dar a oportunidade de viver outras vidas, de
evoluir como ser humano e deixar de ser pedra bruta. Esconder-se atrás da
vaidade para ocultar a síndrome da zona de conforto.
Mas aquele estagiário não se daria
por satisfeito. Depois de todo esse discurso ele ainda questionaria:
- E perante o amor de seus filhos?
Acaso poderia você ser substituído?
E eu lhe diria:
- Achar alguém insubstituível é uma
atitude de amor!
Achar-se insubstituível é uma pecado
e uma crueldade!
É assim que a natureza funciona.
Passamos e a vida passa. As obras servem para que aquilo que existiu seja
lembrado, até por que, a pior vaidade seria depois de ter faltado, esperar que
alguém sofra o resto da vida sua perda sem um devido consolo ao seu lado.
Construa o amor enquanto em vida e
ele só precisará ser renovado. Assim é com a admiração, a caridade, o conhecimento
e todas as virtudes que provém da evolução. Esta que apenas alçaram os que em
lugar da vaidade e de enaltecer-se insubstituíveis vivem e viverão em suas
obras, criadas e perpetuadas para o bem estar da humanidade.
"Se a posse de um mundo
ganhaste, não te alegres por isso... Não importa! Se a posse de um mundo
perdeste, não sofras por isso... não importa! Passam as dores, passam os
prazeres, e tu pelo mundo passas... não importa!"
Goethe.